Xis, querida; diz xis!
As fotos e o filme da vida da gente
Pedro junta todas as fotos numa caixinha de chocolate com gosto de menta. Se é praia azul num mar do Mediterrâneo, ou a cadeira vazia do bar néon que frequenta em Santa Cecília. Tem dia de sol, salgado. Noite de ISO 800, por causa da saudade. Gosto da série "ampulheta", cliques do mesmo vento, visto do mesmo ângulo, em sete anos diferentes. Uma das fotografias está rasgada em duas. Na primeira parte, uma boca de mulher. Na outra, um nariz. Difícil dizer se é de homem. Daí, penso em amor livre. E me engano: os três pontinhos marcados com Bic deixam claro que amor é sempre reticências. Boas fotos não dizem tudo. Hipnotizam, mas o tempo não é infinito. Meu vô morreu pouco depois. Sem óculos. Eu não disse nada. "Xis, querida; diz xis". Brisa ficou sem chão. Entendeu que o sorriso era para nunca mais. Nunca mais daquele jeito. Whisky. Escondido em papel manteiga, um retrato 3X4. Pedro e o indicador colado nos lábios: silêncio. O que será que quis dizer com isso? Calado. Meio abobado, até. De novo, a água. Piscina de umas férias em Itapecerica da Serra. Não dava pé. Dinho, pescando borboletas, batendo as asas. E as boias vermelhas. Na volta, um caldo de cana na curva da estrada. Talvez seja muito, parecendo nada. Novo episódio "coisas do coração": castanholas enlaçadas. Pedro de um lado. Vanessa do outro. Não anda. Não corre. Não voa. O cordão vermelho é uma declaração de amor. E três pontinhos. O que cabe, o que fica de fora. Meu Deus! Quando Ele me perguntar o que eu vi nas coisas, vou me lembrar de tudo emoldurado. Pipoca na casa da Mena, em negativo. Cavalo chamado Fuscão. Dias de chuva. Sobre e justaposição. No final da conversa, de olho molhado, espero ter confirmada essa suspeita antiga que tenho, bonita, de que as fotos não são mudas, não.
As fotos e o filme da vida da gente
Pedro junta todas as fotos numa caixinha de chocolate com gosto de menta. Se é praia azul num mar do Mediterrâneo, ou a cadeira vazia do bar néon que frequenta em Santa Cecília. Tem dia de sol, salgado. Noite de ISO 800, por causa da saudade. Gosto da série "ampulheta", cliques do mesmo vento, visto do mesmo ângulo, em sete anos diferentes. Uma das fotografias está rasgada em duas. Na primeira parte, uma boca de mulher. Na outra, um nariz. Difícil dizer se é de homem. Daí, penso em amor livre. E me engano: os três pontinhos marcados com Bic deixam claro que amor é sempre reticências. Boas fotos não dizem tudo. Hipnotizam, mas o tempo não é infinito. Meu vô morreu pouco depois. Sem óculos. Eu não disse nada. "Xis, querida; diz xis". Brisa ficou sem chão. Entendeu que o sorriso era para nunca mais. Nunca mais daquele jeito. Whisky. Escondido em papel manteiga, um retrato 3X4. Pedro e o indicador colado nos lábios: silêncio. O que será que quis dizer com isso? Calado. Meio abobado, até. De novo, a água. Piscina de umas férias em Itapecerica da Serra. Não dava pé. Dinho, pescando borboletas, batendo as asas. E as boias vermelhas. Na volta, um caldo de cana na curva da estrada. Talvez seja muito, parecendo nada. Novo episódio "coisas do coração": castanholas enlaçadas. Pedro de um lado. Vanessa do outro. Não anda. Não corre. Não voa. O cordão vermelho é uma declaração de amor. E três pontinhos. O que cabe, o que fica de fora. Meu Deus! Quando Ele me perguntar o que eu vi nas coisas, vou me lembrar de tudo emoldurado. Pipoca na casa da Mena, em negativo. Cavalo chamado Fuscão. Dias de chuva. Sobre e justaposição. No final da conversa, de olho molhado, espero ter confirmada essa suspeita antiga que tenho, bonita, de que as fotos não são mudas, não.
Rodrigo Maceira
Si no puedo bailar, no es mi revolución | Dominódromo
Link da banda:
http://www.myspace.com/fotograma
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